Lilia Maria Woitikoski Azzi (Porto Alegre, 1961) é artista com trajetória marcada por um olhar agudo sobre as relações entre corpo, natureza e sociedade.

Oriunda da área da saúde, com formação em Enfermagem e especialização em Saúde Coletiva, Lilia desenvolveu, antes mesmo da escultura, um profundo entendimento das fragilidades e potências do ser humano e do coletivo.

Sua obra transita entre escultura, linguagem poética e instalação, e tem como centro a experiência humana atravessada por questões ambientais, sociais e de gênero. A memória, os ciclos naturais e as marcas do tempo sobre o corpo e o território são temas recorrentes em sua produção.

A artista construiu sua formação em escultura por meio de um percurso sólido e contínuo, com ênfase na linguagem tridimensional e no pensamento visual contemporâneo. Iniciou seus estudos com a professora Ana Luz Petini no Atelier Xico Stockinger, em Porto Alegre, ainda no final dos anos 1990, e desde então vem aprofundando sua prática em ateliês, programas de orientação artística e escolas especializadas no eixo Porto Alegre–São Paulo. Sua pesquisa combina rigor técnico, elaboração simbólica e um olhar sensível às urgências sociais e ambientais do presente.

Sua série mais recente, “Vazios e Buracos: as marcas da enchente que o corpo carrega” (2024), mergulha nas cicatrizes deixadas pela tragédia ambiental no Rio Grande do Sul — revelando, em argila, o silêncio, as ausências, os afetos e os abismos provocados pela ação humana no planeta.

A obra de Lilia não busca apenas representar o mundo, ela o confronta. Por meio da escultura e da linguagem poética, convida o espectador a sentir o que foi apagado, a enxergar o que persiste invisível, a tocar o que ficou suspenso entre o íntimo e o coletivo. Seu trabalho parte do corpo como matéria sensível e política e se expande para a natureza e suas transformações, abordando questões sociais, ambientais e de gênero com densidade simbólica e afeto crítico.

Memória, perda, deslocamento e resistência são fios que atravessam sua produção. Em cada peça, Lilia constrói um espaço de sensibilidade e reflexão, onde as ações humanas sobre o planeta e sobre os corpos sobretudo os femininos deixam marcas, cicatrizes e também a possibilidade de reconstrução.

Para ela, toda matéria é corpo, e todo corpo é território de transformação.